É interessante revisitar às vezes o passado, para ver que algumas coisas mudam, ainda que outras não...
Até,
A.N.
Solidão é sempre uma coisa estranha.
Não estou falando aqui daquela solidão de quem se sente só, mesmo em meio a uma grande roda de pessoas. Eu não sou desses – ou pelo menos, não cheguei ainda nesse ponto.
Lembro de uma vez que um grande amigo, por causa de uma mulher de quem ele não gostava, brigou com todos os amigos dele (Na verdade, ele gostava dela sim; o problema é que ele sabia que ela lhe fazia mais mal do que bem. E ainda assim gostava... mas isso é motivo para pensar outra hora). Chegou a um ponto em que ele percebeu o que fizera: quando encontrou um momento em que ele queria falar com alguém, qualquer pessoa – e não havia mais ninguém que o escutasse. Não importava a facilidade de que todos que você conhece estarem a sete números de distância (na época ainda eram sete). Não tinha ninguém ali.
Não é dessa solidão que estou falando. Essa não tem nada de estranho – ela é lógica, racional, podem-se reconhecer seus motivos. Ela é, isso sim, cruel, vergonhosa, muitas vezes até mesmo imoral. Mas não é estranha.
A solidão ao qual me refiro é aquela real, de quem está sozinho – em uma cidade, um apartamento ou em um quarto de hotel – com ninguém mais além dele mesmo para conversar. Lembrei-me que a Júlia me falou sobre uma comunidade no Orkut sobre as pessoas que moram sozinhas. Uma das perguntas mais interessantes era “você fala sozinho em casa?”
Quanto tempo demora para que nós precisemos escutar uma outra voz? Quando tempo leva até que seus ouvidos peçam – ou mesmo implorem – para escutar outra pessoa falando, mesmo que seja você mesmo? Nessas horas, você se vira para o telefone (apesar de os minutos promocionais disponíveis estarem acabando), se der pro interfone (quando você não é um dos produtos pós-modernos que desconhece o próprio vizinho, apesar de você não poder cantar no banheiro sem que ela saiba quando você desafina – e sim, esse exemplo poderia ser muito mais baixo, mas estou tentando manter algum nível aqui), ou – que Deus, Bin Laden e todos os (pseudo)intelectuais nos perdoem, a televisão. Talvez você possa até pensar que esse último está meio fora de lugar no raciocínio que eu estou seguindo, se ainda acreditar que eu estou seguindo um raciocínio qualquer. Mas ela é bem parecida com um grande número de pessoas que são tão chatas que não escutam o que você está tentando dizer.
Essa solidão é que é estranha. Estranha porque ela te força a querer escutar algo, porque você sabe que teria quem te escutasse – mas essas pessoas (e espero que você, como eu, possa falar no plural aqui) simplesmente estão inacessíveis. Diferente daquela primeira, onde procurar alguém te causa alguma coisa ruim, essa solidão de que estou falando não causa nada – simplesmente, nada.
Não me admira que, relativamente, o zero tenha demorado a aparecer na matemática. Nada, zero, coisa alguma – a solidão da qual estou falando – simplesmente foge a toda a nossa forma de raciocínio. Pensamos sempre em algo, sentimos algo, procuramos algo – encontramos algo.
Quando você não encontra nada... acho que a melhor palavra que se enquadra é essa mesmo.
É estranho.
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