quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um Presente…

UNS DIAS ATRÁS, a Tássia veio falar comigo pra que eu gravasse um vídeo pra fazer parte de um presente pro MC. Obviamente, eu que não sei falar muito de improviso, escrevi o que ia dizer…

No fim, acabei mudando um pouco porque (pra variar) ficou muito cumprido, e eu tive que “encurtar” o texto…

Agora que o dia da surpresa já passou, posso reproduzir o texto inteiro, como eu tinha pensado. (Mentira… já que agora estou escrevendo, posso até mexer nele e deixar ele um tantim mais longo! rs)

Inté!

Oi irmão,

Naqueles dias mais doidos, mais aperreados mesmo, sempre acabo pensando numa mesma coisa. Lembro de uma tarde, lá no nosso quarto, estávamos você, o Leandro e eu. Do nada, eu me toquei de como a gente estava: eu deitado na cama lendo, o Leandro jogando bola (no meio do quarto, pra variar), e você sentado numa cadeira tocando violão. Eu lembro de ter rido e dito que a gente precisava de uma foto daquele momento... só faltava a Flávia ali implicando com um de nós, e teríamos cada um de nós fazendo algo que era mais a sua cara. A gente não bateu foto nenhuma, mas sempre que estou ansioso, preocupado e com a cabeça cheia, eu lembro daquele dia.

Tem uma história que gosto muito, do Neil Gaiman, onde o Delírio conversa com o Sonho. Lá, o Delírio pergunta qual é aquela palavra que serve pra dizer que o tempo tá passando. O Sonho responde: Mudança. E são muitas mudanças que ocorreram, desde a tarde que eu estava vendo tv no quarto da mamãe (naquela cama que depois foi bater no sítio, com uma cabeça vermelho escuro, parecendo meio de almofada…), quando ela veio me contar que eu ia ter um irmaozinho, e no dia que a gente entrou em casa, vindo da casa da inhamamãe onde tinhamos ficado enquanto a casa era reformada, e ela tava na sala (naquele sofá em L que dividia a sala de jantar da sala de estar) com você no colo. Desde ali, passamos por várias épocas, algumas mais complicadas, outras mais tranquilas, mas sempre com várias coisas mudando. Algumas dessas mudanças são mais bobas, como você mudando até os cabelos (deixando de ser lourinho até quase não ter cabelo hoje, passando até pelo “topo acaju”!), mudando desde que gente era pequeninho, que o papai e a mamãe brigavam pq eu não queria brincar com você por você ser muito novo, até hoje que é muito difícil estar longe. Mudanças como o fato de que por tanto tempo divididimos o quarto (dividindo pela cor, azul meu e verde teu), a gente passou primeiro a morar em casas diferentes, depois cidades diferentes, e agora, mesmo que por pouco tempo, países diferentes. De um baixinho danado e às vezes enjoado, meio chorão, você virou um dos caras mais fantásticos que se pode conhecer, um profissional de primeira linha, e um amigo que a mera presença já parece ser suficiente; alguém que, em qualquer coisa que se meta a fazer, me dá motivos pra abrir um sorriso e dizer com orgulho “esse é meu irmão”.

Entre tantas mudanças, uma coisa não mudou, mesmo o tempo passando: sempre que penso em momentos de felicidade, os momentos que vêm são aqueles como os que eu comecei falando, de nós no quarto simplesmente fazendo o que gosta; são  imagens que você tá perto, de algum jeito. Seja a gente conversando bobagens de um jogo de videogame, seja a gente discutindo filosofia e psicologia por horas, seja só os dois perto sem precisar falar nada, sempre que penso em momentos em que estamos juntos. E isso, tenho certeza, não tem tempo que mude.

Parabéns, Cezinha. Feliz aniversário, e seja onde nós estivermos (Fortaleza, Belém, Juazeiro, Texas, e onde mais a vida puxar a gente), sempre lembre o quanto sinto sua falta, e o quanto te amo.

Beijim, Baixim!

“Dos meus irmãos eu sinto saudade

eu tenho medo que eles achem que eu não sinto a falta deles

como eu acho que eles sentem de mim”

(Nando Reis, Me diga) – sim, meio modificado… mas tá valendo!

A.N.

sábado, 12 de junho de 2010

Medo de Montanha Russa

PRA FALAR A VERDADE, pensei nesse post meses atrás, em fevereiro ainda. Acabei demorando por acreditar que, de vez em quando, uma imagem vale mais que mil palavras. Assim, acabei começando a esperar aquela imagem que ia dizer tudo…

Pra explicar melhor, vou voltar quase quinze anos atrás. A primeira vez que vim pros Estados Unidos foi na boa e velha viagem de quinze anos pra Disney. Primeiro dia, primeira coisa que fizemos: Bush Gardens, uma tal montanha russa chamada Montu (conheça na Wikipedia ou busque fotos no Google!). Pra quem era acostumado – e nem tanto – com a montanha-russa do ITA Park, aquele negócio que você ia de pé pendurado, dava loopings e parafusos e passava por túneis, era demais. Amarelei. O primeiro brinquedo nos EUA, e eu desisti. De verdade, aquilo ali virou um arrependimento grande meu… Fui em outras montanhas russas depois, mas ainda assim, ficava aquele pedaço faltando. De verdade, qualquer uma ainda me metia medo, qualquer uma ainda me deixava ansioso.

Quatorze anos depois, estou morando nos EUA, e minha família vem me visitar. Primeiro dia foi logo o Universal Studios de Orlando, com a montanha russa do Hulk (que tem uma arrancada a 100 por hora – espetacular!) e os Dueling Dragons, que agora fazem parte do parque do Harry Potter. Fui nas três (os dragões são dois, na verdade), mas ainda me tremia olhando pra elas. A Mari queria ir, e eu respirava fundo e pensava “não posso fazer a mesma coisa de novo, né? tem que arrumar coragem.” e olhava pra ela pulando e com seu sorriso, me pedia: “amor, a gente vai, né?”. Claro, amor. No Universal, tinha uma gigante que não tive coragem de ir naquele dia:Rock It, que começa com uma subida na vertical. A Mari disse que queria ir… ai meu deus. Tá, vamos, mas pode não ser hoje? Íamos voltar lá. Tá, não precisa ser hoje. Mas eu não tinha escapado ainda. Mas com você eu vou.

Na programação original da viagem, não estava o Busch Gardens, por ser mais longe, fora de Orlando. Mari e eu resolvemos: damos nosso jeito, e vamos bater lá. Dia seguinte, pedimos pra sermos deixados no Sea World, e de lá arrumamos transporte pra Tampa. E fomos, e foi um dos melhores dias da viagem…

Assim que chegamos lá, fomos direto pra tal da Montu. Foi uma realização, mas algo ainda não estava bem certo… não posso mentir: ir em nenhuma dessas quatro montanhas-russas resolveu meu medo constante desse tipo de brinquedo. Aí, de longe, vimos a montanha russa que mais me meteu medo na minha vida. Ela tinha uma queda praticamente na vertical (parecia, daquela distância. Lá de cima, vemos que ela faz um negativo pra dentro). O nome dela era Sheikra. A Mari inventou de querer ir. Doida, suicida. Vou, com você eu vou. Mas que é isso que estou me metendo…

Antes de ir, batemos essa foto. Eu queria ter gravado “Mãe, te amo” antes de ir, mas sabe como é, não queria parecer tão apavorado quanto eu realmente estava (antes que perguntem, não, não deu pra esconder. A Mari começou brincando, mas depois na fila ficou me acalmando). Olha aí a foto da brincadeira atrás da Mari…

2010-02-16 022 Busch Gargens

Tá vendo o carrinho ali antes da descida? Pois é, na hora pareceu até que o carrinho queria bater a foto. Ao chegar no ponto de descer, ele congela, te deixa pendurado. Filho duma…

Fomos. Nessa montanha-russa, vc não tem fila especial pra ir na frente. Vai na que tiver. Em qual caímos? Na frente, claro. Nessas horas, as pessoas dizem que o coração parece um pandeiro. O meu não. Estava calmo. Conformado com a hora da morte. Sento, e seguro a mão dela. Com você eu vou. Morrendo de medo, mas eu vou.

Dêem uma olhada no videozinho aí embaixo… dei uma editada, coloquei umas fotos… o original vc acha aqui.

Devo dizer que meu coração ainda acelera ao olhar esse passeio. Mas uma coisa é certa: Eu sobrevivi. O negócio mais horrendo que eu podia ver, e eu sobrevivi. E mais: gostei. Adorei. Saí maravilhado. Sim, gritei horrores (não na primeira descida, fiquei congelado – mas no looping eu já tava gritando!). Mas mais que isso, percebi que eu poderia gostar de algo que me amedrontasse.

Dias depois, fui em uma montanha-russa totalmente doida, chamada Manta. Após vc se sentar, ela fica na horizontal, te deixando deitado. Você passeia como se tivesse voando. Compare as duas fotos, e veja a diferença de eu em uma e outra… Posso dizer, não tenho mais medo de montanha russa.

2010-02-20 Sea World

Na verdade, acho que muito do meu medo de montanha-russa vem desde criança, quando fui em um brinquedo que virava de cabeça pra baixo – o primeiro que fui na vida – e vomitei tudo… o cara que foi comigo ficou pulando e rindo apontando pra mim, tudo que tem direito. Sempre, diante daquelas coisas que te viram do avesso e te forçam a fazer coisas que você nunca imaginou, eu sempre achei que ia acabar me fazendo de bobo de novo.

Hoje, não sei se posso dizer que ainda tenho isso. Meu primeiro movimento é dizer que não. Não tem problema alguma coisa me tirar o chão, me jogar de um lado pro outro, me arremessar pra cima, virar de cabeça pra baixou ou deixar pendurado. Eu olho pro lado e penso: com ela eu vou.

Com ela, descobri que posso gostar das coisas mais loucas, que me meteriam medo. Não preciso mais ficar no chão seguro: tenho coragem – e vontade! – de me jogar, de arriscar. Posso ou não me fazer de bobo. Posso parecer apavorado na fila, posso até vomitar tudo no final. Mas eu tento.

Aprendi que tenho coragem – e vontade – de viver. Em especial quando a tenho do meu lado. Em especial quando posso ver seu sorriso e, com ela, dizer: Vou. Com você, eu vou.

Nenhum presente poderia ser maior que esse. Espero te ter sempre ao meu lado, às vezes (na maoria das vezes, provavelmente), me puxando pra embarcar em aventuras, as mais loucas possíveis. Espero, às vezes, te puxar também.

Feliz dia dos namorados, meu amor. E, aos outros que estiverem lendo isso, só posso desejar que vocês encontrem alguém que também possa levar vocês aos seus limites, e além. Que sejam capazes até de fazer com que vocês percam o seu medo de montanha russa.

Sou um homem feliz por ter alguém assim.

Inté,

Aécio

12/junho/2010