PRA FALAR A VERDADE, pensei nesse post meses atrás, em fevereiro ainda. Acabei demorando por acreditar que, de vez em quando, uma imagem vale mais que mil palavras. Assim, acabei começando a esperar aquela imagem que ia dizer tudo…
Pra explicar melhor, vou voltar quase quinze anos atrás. A primeira vez que vim pros Estados Unidos foi na boa e velha viagem de quinze anos pra Disney. Primeiro dia, primeira coisa que fizemos: Bush Gardens, uma tal montanha russa chamada Montu (conheça na Wikipedia ou busque fotos no Google!). Pra quem era acostumado – e nem tanto – com a montanha-russa do ITA Park, aquele negócio que você ia de pé pendurado, dava loopings e parafusos e passava por túneis, era demais. Amarelei. O primeiro brinquedo nos EUA, e eu desisti. De verdade, aquilo ali virou um arrependimento grande meu… Fui em outras montanhas russas depois, mas ainda assim, ficava aquele pedaço faltando. De verdade, qualquer uma ainda me metia medo, qualquer uma ainda me deixava ansioso.
Quatorze anos depois, estou morando nos EUA, e minha família vem me visitar. Primeiro dia foi logo o Universal Studios de Orlando, com a montanha russa do Hulk (que tem uma arrancada a 100 por hora – espetacular!) e os Dueling Dragons, que agora fazem parte do parque do Harry Potter. Fui nas três (os dragões são dois, na verdade), mas ainda me tremia olhando pra elas. A Mari queria ir, e eu respirava fundo e pensava “não posso fazer a mesma coisa de novo, né? tem que arrumar coragem.” e olhava pra ela pulando e com seu sorriso, me pedia: “amor, a gente vai, né?”. Claro, amor. No Universal, tinha uma gigante que não tive coragem de ir naquele dia:Rock It, que começa com uma subida na vertical. A Mari disse que queria ir… ai meu deus. Tá, vamos, mas pode não ser hoje? Íamos voltar lá. Tá, não precisa ser hoje. Mas eu não tinha escapado ainda. Mas com você eu vou.
Na programação original da viagem, não estava o Busch Gardens, por ser mais longe, fora de Orlando. Mari e eu resolvemos: damos nosso jeito, e vamos bater lá. Dia seguinte, pedimos pra sermos deixados no Sea World, e de lá arrumamos transporte pra Tampa. E fomos, e foi um dos melhores dias da viagem…
Assim que chegamos lá, fomos direto pra tal da Montu. Foi uma realização, mas algo ainda não estava bem certo… não posso mentir: ir em nenhuma dessas quatro montanhas-russas resolveu meu medo constante desse tipo de brinquedo. Aí, de longe, vimos a montanha russa que mais me meteu medo na minha vida. Ela tinha uma queda praticamente na vertical (parecia, daquela distância. Lá de cima, vemos que ela faz um negativo pra dentro). O nome dela era Sheikra. A Mari inventou de querer ir. Doida, suicida. Vou, com você eu vou. Mas que é isso que estou me metendo…
Antes de ir, batemos essa foto. Eu queria ter gravado “Mãe, te amo” antes de ir, mas sabe como é, não queria parecer tão apavorado quanto eu realmente estava (antes que perguntem, não, não deu pra esconder. A Mari começou brincando, mas depois na fila ficou me acalmando). Olha aí a foto da brincadeira atrás da Mari…
Tá vendo o carrinho ali antes da descida? Pois é, na hora pareceu até que o carrinho queria bater a foto. Ao chegar no ponto de descer, ele congela, te deixa pendurado. Filho duma…
Fomos. Nessa montanha-russa, vc não tem fila especial pra ir na frente. Vai na que tiver. Em qual caímos? Na frente, claro. Nessas horas, as pessoas dizem que o coração parece um pandeiro. O meu não. Estava calmo. Conformado com a hora da morte. Sento, e seguro a mão dela. Com você eu vou. Morrendo de medo, mas eu vou.
Dêem uma olhada no videozinho aí embaixo… dei uma editada, coloquei umas fotos… o original vc acha aqui.
Devo dizer que meu coração ainda acelera ao olhar esse passeio. Mas uma coisa é certa: Eu sobrevivi. O negócio mais horrendo que eu podia ver, e eu sobrevivi. E mais: gostei. Adorei. Saí maravilhado. Sim, gritei horrores (não na primeira descida, fiquei congelado – mas no looping eu já tava gritando!). Mas mais que isso, percebi que eu poderia gostar de algo que me amedrontasse.
Dias depois, fui em uma montanha-russa totalmente doida, chamada Manta. Após vc se sentar, ela fica na horizontal, te deixando deitado. Você passeia como se tivesse voando. Compare as duas fotos, e veja a diferença de eu em uma e outra… Posso dizer, não tenho mais medo de montanha russa.
Na verdade, acho que muito do meu medo de montanha-russa vem desde criança, quando fui em um brinquedo que virava de cabeça pra baixo – o primeiro que fui na vida – e vomitei tudo… o cara que foi comigo ficou pulando e rindo apontando pra mim, tudo que tem direito. Sempre, diante daquelas coisas que te viram do avesso e te forçam a fazer coisas que você nunca imaginou, eu sempre achei que ia acabar me fazendo de bobo de novo.
Hoje, não sei se posso dizer que ainda tenho isso. Meu primeiro movimento é dizer que não. Não tem problema alguma coisa me tirar o chão, me jogar de um lado pro outro, me arremessar pra cima, virar de cabeça pra baixou ou deixar pendurado. Eu olho pro lado e penso: com ela eu vou.
Com ela, descobri que posso gostar das coisas mais loucas, que me meteriam medo. Não preciso mais ficar no chão seguro: tenho coragem – e vontade! – de me jogar, de arriscar. Posso ou não me fazer de bobo. Posso parecer apavorado na fila, posso até vomitar tudo no final. Mas eu tento.
Aprendi que tenho coragem – e vontade – de viver. Em especial quando a tenho do meu lado. Em especial quando posso ver seu sorriso e, com ela, dizer: Vou. Com você, eu vou.
Nenhum presente poderia ser maior que esse. Espero te ter sempre ao meu lado, às vezes (na maoria das vezes, provavelmente), me puxando pra embarcar em aventuras, as mais loucas possíveis. Espero, às vezes, te puxar também.
Feliz dia dos namorados, meu amor. E, aos outros que estiverem lendo isso, só posso desejar que vocês encontrem alguém que também possa levar vocês aos seus limites, e além. Que sejam capazes até de fazer com que vocês percam o seu medo de montanha russa.
Sou um homem feliz por ter alguém assim.
Inté,
Aécio
12/junho/2010
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