quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Então é Natal... Para o Bem e para o Mal

O NATAL É SEMPRE MARCADO POR LUGARES CHEIOS DE GENTE. Claro que em parte isso é legal - quando sua casa está lotada de familiares e amigos, todos se divertindo, comendo guloseimas gostosas que por algum motivo você só as come nessa época, e aquele amor dissolvido na ar que atinge todas as pessoas.

Mas também tem aquele inferninho que os shoppings e centros da cidade se tornam. Um formigueiro humano de gente tentando comprar logo tudo pra sair dali, mas ao mesmo tempo procurando atrás de cada sapato outro que esteja em promoção. Nos corredores ou nas ruas, as pessoas se acotovelam e empurram, chutam pés e acertam o ombro alheio, em uma estranha forma de demonstrar aquele amor pulverizado no ar.

Tamanho número de pessoas também gera oportunidades sem tamanho para pessoas
que queiram se aproveitar. Seja usar do anonimato que a multidão permite para atos moralmente impróprios (sim, estou falando disso mesmo), seja para problemas mais sérios. Esse fim de semana, houve disso em Fortaleza em uma escala que nunca havia ouvido antes.

Ora, milhares de pessoas nas ruas com os bolsos cheios de 13º para lotar suas árvorezinhas apinheiradas se esprementaod em um mesmo lugar... isso pode chamar o quê? Nesse sábado, Fortaleza viu seus dias de cidade grande quando as notícias chegaram de que estava havendo um arrastão no centro. As notícias que chegaram eram assustadoras: um grupo armado invadiu as grandes lojas e levaram o que vinha pela frente. Vários tiros foram disparados. Uma correria levou portas a serem trancadas, pessoas refugiarem-se dentro das lojas, vitrines foram quebradas. Os ônibus evitavam ir até o centro, mudando sua rota para escapar do bairro. A correria deixou gente machucada e pisoteada. Os poucos ônibus que entravam tinham dezenas de pessoas se jogando dentro dele, brigando por algum espaço, tentando escapar de balas que podiam vir de qualquer lugar.

Alguém em um loja escutou, "vamos para a Monsenhor Tabosa". Para quem não conhece, a Mons. Tabosa é o sonho de qualquer mulher compradeira - uma rua de acho que meio quilômetro apinhada de lojas de fábrica e boutiques de preços relativamente baratos - outro ponto clássico de vendas. Os vendedores do centro ligaram para companheiros dessas lojas, que preparou-se - várias lojas fecharam, pessoas se esconderam nas lojas. Ouviu-se que, por volta das três ou quatro da tarde, os bandidos chegaram por lá.

No "aftermath", as notícias começaram a ser veiculadas pelos jornais. Mas agora, com uma cara diferente. O Eu Podia Tá Matando linkou algumas notícias dos jornais de Fortaleza, que afirmam que não houve nada de arrastão ou grupos armados guerreando nas ruas (fontes: aqui, aqui e aqui; fotogaleria, aqui; não achei nada na página do Diário). O fato divulgado é que houve apenas um assalto, e que a confusão se alastrou a uma velocidade assustadora. Ninguém fala que viu os grupos armados.

É lógico que, mesmo que não tenha havido arrastão (o que eu não estou plenamente covencido, mas como eu não estava lá...), o fato é que o episódio mostra o perigo que só uma multidão é capaz de propor. O mais assustador de tudo é que tenha alguém ouvido que houve um assalto, tenha visto as armas ou alguém tenha visto alguém ser alvejado, não importa. Basta essa notícia se espalhar ("Ai meu Deus, virgem Maria, não vou pro lado da praça não! Tá tendo assalto!") para que as próximas pessoas já fujam. E fugindo, você não pára para dar explicação. ("Não, meu senhor, na verdade estou apenas deambulando para o lado oposto de onde um possível furto está em execução no presente momento, mas não há o que se preocupar"). Os efeitos se espalham e reverberam de tal forma que a confusão pode gerar danos irreversíveis.

Até o momento, a notícia é de que uma pessoa morreu. De infarto.

Multidões apinhadas são sempre um barril de pólvora pronto pra explodir, esperando uma faísca. E essa faísca nem precisa ser real: basta gristar FOGO.

Imagine o tamanho do barril no Natal.

Inté,

A. N.

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma tristeza esse tipo de coisa. Esse ano em Londrina os "camelos" andaram fazendo uma coisa assim no centro, quebrando tudo... e realmente aconteceu, a foto na capa do jornal do dia seguinte era impressionante.

melhores natais para todos...

beijos