DOMINGO, acordei e quis dar uma volta pela cidade. Fui até a farmácia, comprar algo que precisaria na viagem da noite, e um pouco mais de água para sobreviver em uma terra quase desértica. O sol do planalto central pregava uma daquelas peças estranhas, queimando seu rosto enquanto o ar em volta arrepia de frio.
Ninguém na rua, exceto uma ou outra alma solitária que tinha o que fazer às oito e pouco de um domingo. Para atravessar a rua, um carro solitário vem de longe, preguiçoso, e eu paro na faixa esperando ele passar. Ele diminui e pára também, dando passagem a mim. Algo está fora da ordem, mas aproveito e passo com um sorriso...
Acho fácil a banca de revistas, e ela se chama "Fortaleza". Pergunto, "O nome da banca é
esse pela virtude ou pela cidade?" "Pelos dois" "Você é de lá?" "Sim". O cara estava lá haviam 18 anos, mas todo ano visitava nossa terrinha. Conversamos um pouco, eu pego a água e volto caminhando...
Ao virar uma quadra procurando uma banca, vejo mais algumas pessoas. Um grupo de crianças corre em um playground, sob o olhar atento de uma provável babá ninando no colo um bebê que não deve ter visto ainda muita coisa por aí. E assim foi um passeio rápido na cidade de Brasília.
Já que a madrugada me viu a vinte mil pés de altura (eu é que não a vi, exceto talvez em algum sonho não lembrado), acordo em Belém do Pará. E, de manhã, procurando comprar o café, saio para a padaria pegar pão e leite.
Já saio do lado de uma escola, e dezenas de crianças gritam e brincam enquanto algum professor grita pra eles entrarem. Um carro do gás passa barulhento, misturando o nome da empresa com a música do plantão da globo para chamar mais atenção. Ando até a rua, onde dezenas de pessoas circulam, e os carros passam rasgando e cortando uns aos outros. Na padaria, as pessoas falam muito, mas consigo os quatro "carecas" e uma caixa de leite. Volto pra casa apressado, já que o dia já começou e tenho que pegar no batente. Mais tarde, atravessando a rua, o sinal verde acende comigo ainda na faixa. Duas buzinas tocam e um terceiro carro avança, apressado. Alguma coisa parece que voltou ao normal...
Não sei se dei de cara com diferenças entre Belém e Brasília, mas acho que não. Acho que dei de cara com as diferenças de um domingo de preguiça e o bom e velho "Odeio Segundas Feiras". Talvez com as diferenças entre seu lugar e o dos outros.
O fato é que, entrando em casa (agora apressado porque o pão quente estava esfriando), sorri ao lembrar que mesmo com aquelas diferenças, pude ver a diferença entre ordem e espontaneidade. E quem há de dizer ao contrário?
Quem sabe onde mais estarei passeando de manhã nos próximos tempos. Mas, se vier, conto pra quem quiser ouvir... ou ler.
Inté
A.N.